Sem Ti.



Nada do que eu diga neste instante
Será o bastante para te convencer
Nem o mais belo poema...
O mais lindo tema...
Que penetre em teu ser.

Nada que eu diga
Ou que eu grite
Será o suficiente para ti,
Perco minhas forças
Perco-me em mim.

Sem um fim...
Vou recolhendo os restos que sobraram de ti
em versos arrastados, machucados de tanto eu sentir.

Nada do que eu escreva
Nem mesmo as mais corretas letras
Será o suficiente para te convencer
De que a poeta morrerá em mim
Se por um acaso eu te esquecer.

Leni Martins

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Surpreenda-se

Edgard Degas
Sabe aqueles momentos que você achou que não ia dar, que faltava ar, que não tinha impulso? Momentos em que tudo quis dar errado, mas então veio a vida e te abriu um sorriso largo e sincero e entrou pedindo licença, que era pra por mais um prato na mesa e que ela iria ficar.

É então que você percebe que não é uma pessoa ordinária, que não está sozinho, que tem brilho próprio e que esse sorriso na sua cara é seu. E nunca deixou de ser todo seu...

A vida sempre tem uma surpresa pra você. Algumas boas e outras nem tanto, mas sempre surpreendente.
Então surpreenda-se!

Guilherme Augusto Campesato


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Sem Nome



Você precisa fazer alguma coisa, as pessoas dizem. Qualquer coisa, por favor, as pessoas dizem. O que não dá é pra ficar assim. Nem que seja piorar, nem que seja enlouquecer. Olho o rosto das pessoas. Tem os ossos, dai tem a parte de dentro. Tem os olhos e tem o fundo dos olhos. Da boca saem esses sons. De repente alguém encosta em mim. Pra perguntar com o quentinho da mão se estou ouvindo e entendendo. Sorrio e torço pra pessoa ir embora. Torço pra alguém chegar, só pra torcer bem pouquinho por algo. Mas dai a pessoa começa a falar e torço pra pessoa ir embora. Não tem o que fazer, não tem o que dizer, não tem o que sentir. Sou uma ferida fechada. Sou uma hemorragia estancada. Tenho medo de deixar sair uma letra ou um som e, de repente, desmoronar.

Quando toca uma música bonita, minha ironia assovia mais alto. Um assovio sem melodia. Um assovio mecânico mas cuidadoso, como tomar banho ou colocar meias. Outro dia tentei chorar. Outro dia tentei abraçar meu travesseiro. Não acontece nada. Eu não consigo sofrer porque sofrer seria menos do que isso que sinto. Tentei falar. Convidei uma amiga pra jantar e tentei falar. Fiquei rouca, enjoada, até que a voz foi embora. Tentei aceitar o abraço da minha amiga, mas minha mão não conseguiu tocar nas costas dela. Não consigo ficar triste porque ficar triste é menos do que eu estou. Não consigo aceitar nenhum tipo de amor porque nenhum tipo de amor me parece do tamanho do buraco que eu me tornei. Se alguém me abraçar ou me der as mãos, vai cair solitário do outro lado de mim.

Se eu pudesse usar uma metáfora, diria que abriram a janela do meu peito e tudo de bom saiu voando. Eu carrego só uma jaula suja e escura agora. Se eu pudesse usar uma metáfora, eu diria que tiraram as rodinhas dos meus pés. Eu deslizava pelo mundo. Era macio existir. Agora eu piso seco no chão, como um robô que invadiu um planeta que já foi habitado por humanos. Mas eu não posso usar metáforas porque seria drama, seria dor, seria amor, seria poesia, seria uma tentativa de fazer algo. E tudo isso seria menos.

Não briguei mais por você, porque ter você seria muito menos do que ter você. Não te liguei mais, porque ouvir sua voz nunca mais será como ouvir a sua voz. Não te escrevo porque nada mais tem o tamanho do que eu quero dizer. Nenhum sentimento chega perto do sentimento. Nenhum ódio ou saudade ou desespero é do tamanho do que eu sinto e que não tem nome. Não sei o nome porque isso que eu sinto agora chegou antes de eu saber o que é. Acabou antes do verbo. Ficou tudo no passado antes de ser qualquer coisa. Forço um pouco e penso que o nome é morte. Me sinto morta. Sinto o mundo morto. Mas se forço um pouco mais, tentando escrever o mais verdadeiramente possível, percebo que mesmo morte é muito pouco. Eu sem nome você. Eu sem nome nós. Eu sem nome o tempo todo. Eu sem nome profundamente. Eu sem nome pra sempre.

Tati Bernardes

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Quero ler livros

Claude Monet - Coin d’atelier
Quero ler livros de todas as cores! 
Depois de cada página...
Respingar um pouco mais em mim...
As cores do mundo
Quero um arco-íris de idéias...
Quero ver a vida colorida, 
Passear em suas multicores...
Perceber sua gama infinita de possibilidades, 
vontades e sentimentos...
Quero viajar sem tempo,
Tenho a vida toda pra isso...

Viviane Dick

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Poema Etílico



Não brindemos.

Não comemoremos.

Porque a alma não resiste

e desiste.

Vamos vibrar à frente dos tolos,

vamos dançar no meio da rua,

vamos beber poesia

e fumar nossa cultura lírica.

Se não se pode namorar a noite,

que então os belos se arrumem pro dia

e mostrem com orgulho cacos de vidro

refletindo ao sol.




Vamos entornar paixões diabo a quatro

e cair nas calçadas

entrelaçados de amor amigo.

E se tivermos pressa

é porque a alma não pára

porque não tem passado.




E nós, tão defensores de nós mesmos,

não vemos a vida – etílica –

que nos vicia dia-a-dia.

Mas bebemos da noite em doses generosas

e disfarçamos a lágrima num sorriso tímido

(mas sincero).


Marcel

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