A um ausente



Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste

Carlos Drummond de Andrade

Fonte:

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Divina Comédia de Salvador Dalí




Para comemorar os 700 anos da publicação de A Divina Comédia, nos anos 1950, o governo da Itália contratou o pintor surrealista Salvador Dali a missão de fazer 100 pinturas ilustrativas do clássico para comemorar os sete séculos da publicação de A Divina Comédia, de Dante Alighieri. A ideia, que partiu do governo italiano na década de 1950, era traduzir em imagens a odisseia literária proposta pelo poeta italiano.Nos moldes da obra original, Dali também dividiu suas 100 gravuras em três partes principais (Inferno, Purgatório e Paraíso). E nelas estão as passagens principais do poema épico que narra a absurda trajetória de Virgílio pelos círculos infernais até o centro da Terra, seu encontro com Lúcifer e o regresso redentor à superfície até ser guiado ao Paraíso. À arte do pintor catalão, soma-se ainda o reforço sonoro da Sinfornia Dante, de Franz Liszt.





O que: Exposição Dalí: A Divina Comédia  esta exposição no Rio de Janeiro conta com 100 aquarelas do pintor surrealista
Onde: CAIXA Cultural Rio de Janeiro – Galeria 3 – Av. Almirante Barroso, 25, Centro – Rio de Janeiro (RJ)
Quando: até 2 de setembro de 2012



Fontes:
http://www.artrio.art.br/gravura
http://www.timeout.com.br/texto

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O Teu Silêncio



o teu silêncio fala mais do que todas as palavras...
o teu silêncio é ave de rapina que pousou sobre a minha cabeça
fez estragos
destruiu sonhos

o teu silêncio foi o apêndice para uma longa jornada

alcancei estrelas e planos inexplicáveis
barrei em verdades incontestáveis

porque o teu silêncio é resposta para uma vida inteira
se a pergunta foi alvissareira
a resposta foi derradeira
the end
ponto final
foi meu último mal

sonia delsin

Fontes:

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“Tenho câncer de mama e tenho medo de morrer” Por Viviane Lima



Elaine Crespo, 55 anos, a perda do pai e de uma tia. A luta de sua sua mãe contra o câncer, a descoberta de sua própria doença, um câncer de mama. Nem mesmo o medo da morte e da doença que devastou sua família conseguiram lhe roubar a vontade de viver.

Foi em 1987 que Elaine sofreu o primeiro impacto da doença, quando sua mãe foi diagnosticada com câncer de mama. Aracy Ferreira Crespo foi levada a fazer mastectomia, retirada da glândula mamária, e seu seio foi reconstituído por um dos melhores especialistas de Recife, cidade natal. Convivendo com a doença de forma mais direta, cada ano para Elaine parecia uma vitória e mais um passo para a cura, mas a pergunta que sempre se fazia: “Cura será que existe?” Passou então a chamar de sobrevida. Teve ainda mais convicção de sua opinião quando treze anos após o câncer da mama esquerda, sua mãe teve outro na mama direita, dois tumores, pequenos e pouco agressivos, desta vez não foi necessário fazer mastectomia, nem quimioterapia, mas fez radioterapia por prevenção.


 "O fantasma da morte fica junto de mim, e é como se eu sentisse ele respirando no meu pescoço e dizendo que não vai me deixar em paz"


Quando tudo parecia ter voltado ao normal, eis outra surpresa. Sua tia, irmã de sua mãe morre de câncer de mama em estado avançado, por medo e preconceito de encarar a doença. Apesar da luta de Dona Aracy, hoje ela está com setenta e sete anos e não apresentou mais sinais do câncer e mesmo curada, faz exames anuais de prevenção.
Após a morte da tia e terminado o tratamento da mãe no ano de 2001, José Ferraz crespo – pai de Elaine -, é diagnosticado com um Linfoma Não-Hodgkin (as células linfáticas começam a se modificar, multiplicando-se sem controle e formando tumores. O linfoma de células T é o tipo menos comum) e com um difícil diagnóstico. Seis meses de quimioterapia, com o apoio constante da filha, José consegue que a doença seja controlada.

Cura?

Em novembro de 2004, Elaine faz como sempre durante os dezoito anos do descobrimento do câncer de sua mãe, prevenção semestralmente. Os exames incluíam mamografia digital e ultrassonografia, sempre fazendo questão de que até o mais simples dos exames fosse feito nas melhores clínicas e com profissionais que são referências nacionais e internacionais. Tudo parecia ir bem, os resultados eram sempre favoráveis. Podia respirar aliviada e despreocupada.

Menos de um ano após os exames preventivos, durante o banho, um nódulo aparece. Novamente voltou aos médicos e através de um ultrassom descobriu que o nódulo era sólido. Após fazer uma punção, o resultado mostrou que o nódulo era benigno.

Apesar da notícia, retirou o nódulo e os exames continuaram apontando benigno. Parecia não haver com o que se preocupar. Doença rara e um exame de imunoistoquímica em São Paulo para afastar duas patologias. Câncer nem pensar! Assim era informada. Até receber o resultado de um dos exame, uma surpresa: Carcinoma Metastático, um tipo raro, não agressivo e curável de câncer. Com crescimento rápido.

A família de Elaine Crespo tem uma grande história de superação. O avô morreu de câncer muito novo, sempre ouviu da mãe que ele era um guerreiro, mal pode conhecê-lo pois mesmo antes dela completar três anos ele se foi. A avó morreu quando a mãe de Elaine tinha apenas cinco anos. Alguns de seus primos nasceram e outros tornaram-se portadores de leucemia. O câncer sempre fez parte de sua vida, teve que aprender a lidar com ele, mesmo quando via o pai esmorecer, ainda lutando até o fim.

"Os médicos dizem que tive sorte e que a prevenção salvou minha vida. Não acredito que foi sorte e não acredito na medicina."

Quando o diagnóstico saiu, desesperou-se, quando a família recebeu a notícia, todos estavam acostumados e tinham em Dona Aracy um exemplo de superação. Somente Seu José desejou que fosse com ele, sem saber que o câncer dele havia voltado. Os filhos sabiam que tudo acabariam bem, foram orientados por um especialista da total chance de cura. Cura essa que Elaine não acreditava existir.

Fez mastectomia, retirada total da mama, onde retirou todo o câncer. Não foi preciso fazer quimioterapia ou radioterapia e mesmo com atenção total do marido, ainda não permite que vejam a mama reconstituída. Desde a retirada da mama, evita se olhar no espelho.

Ainda sente como se a cada dor ou sintoma o câncer tenha voltado, para desta vez levá-la. O medo da morte fez com que desenvolvesse síndrome do pânico, nunca buscou ajuda em grupos de apoio, nem em nenhuma religião. Procurou um psiquiatra que não conseguiu ajudá-la, mas ainda tem esperança de que talvez algum dia consiga tomar banho sem chorar.


 Postado por Viviane Limano Blog http://lagrimasnoceu.wordpress.com

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Partes



O tempo passa e o meu vazio pede remendos,
O meu desejo pede platéia,
O meu sonho pede cena.
A minha parte vontade é avassaladora,
A minha parte pecado é febril
Todas as horas são minhas, e, parte do tempo, perdido.

Por fora, sou todo amor, talvez cais.
Por dentro sou proveito, maré, defeito, colo e exaustão
Mas antes não fui, em cada instante que passou:
Porque o presente não tolera as mesmas falas (manias de passado),
E mesmo que se arraste, caia, canse,
Não há como tirar algumas horas pra se confortar nas lembranças
(coisas que vivemos só por viver, mas servem de saudade).

Não me fale da memória, essa senhora ranzinza que cria gatos.
Não me pergunte qual a dança, senão perco o passo.
Não me traga a esses cômodos aos quais o tempo chamou de lembrança.

Porque quando sou olhos, perco o tato e o tino.
Quando enxergo cada beco, cada ato, fico atado.
Quando desse céu rogo a ajuda, em forma de divindade é tudo chuva
Que eu cuido de secar.
E quando eu for chão, posso ser tua (ou aquela, ou daquela) estrada
Porque a pior parte de você sou eu.

Luiz Marcel

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Eu quero saber...




Não me interessa o que você faz para viver, eu quero saber o que de fato você busca e
se você é capaz de ousar sonhar em encontrar as aspirações do seu coração.
Não me interessa a tua idade.
Eu quero saber se você será capaz de se transformar num tolo, para poder amar, viver os seus sonhos, aventurar-se de estar vivo.
Não me interessa qual o planeta que está em quadrante com a tua lua.
Eu quero saber se você tocou o centro da tua própria tristeza,e se você tem sido exposto pelas traições da vida ou se você tem se contorcido e se fechado com medo da própria dor.
Eu quero saber se você é capaz de ficar com a alegria, a minha e a sua.
Se você é capaz de dançar loucamente e deixar que o êxtase te envolva até a ponta dos dedos dos pés e das mãos, e sem querer nos aconselhar a sermos mais cuidadosos, mais realistas ou nos lembrar das limitações de ser humano.
Não me interessa se a história que você está me contando é verdadeira.
Eu quero saber se você é capaz de desapontar o outro para se verdadeiro consigo mesmo.
Se você é capaz de escutar a acusação de traição e não trair a sua própria alma.
Eu quero saber se você pode ser confiável e verdadeiro.
Eu quero saber se você pode ver a beleza, mesmo quando o dia não está belo,e se você pode conectar a sua vida através da presença de Deus.
Eu quero saber se você é capaz de viver com os fracassos, os teus e os meus,e mesmo assim se postar nas margens de um lago e gritar para o reflexo da lua, "SIM" .
Não me interessa onde você mora ou quanto dinheiro você ganha,
eu quero saber se você é capaz de acordar depois da noite do luto e do desespero,exausto e machucado até a alma, e fazer aquilo que precisa ser feito.
Não me interessa o que você é, ou como você chegou aqui
Eu quero saber se você irá postar-se no centro do fogo comigo e não fugir.
Não me interessa onde, o quê ou com quem você estudou.
Eu quero saber o que te sustenta interiormente quando tudo o mais desabou.
Eu quero saber se você é capaz de ficar bem consigo mesmo, e se você realmente é boa companhia para si mesmo nos momentos vazios.

Oriah Mountain Dreamer

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